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Maçonaria (Parte II)

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A Lenda do Complô Maçônico

Apesar de toda a criatividade do abade Augustin Barruel, ele não foi o pai da ideia do complô que desencadearia a Revolução Francesa. Em 1791, outro abade, de nome Lefranc, tentava provar que o objetivo da maçonaria era derrubar o trono e o altar em um livro chamado: Retirando o veu para os curiosos ou O Segredo da Revolução revelado com a ajuda da franco-maçonaria. Mesmo sem fornecer nenhuma prova para sustentar a tese do complô, o livro de Lefranc expõe com precisão como os maçons e os filósofos iluministas tinham “mudado os costumes da França”.

A terceira obra célebre que difundiu o tal complô foi publicada em 1796 por Charles-Louis Cadet de Gassicourt, filho bastardo de Luís XV, com um título interminável: A tumba de Jacques Molay ou História secreta resumida dos iniciados antigos e modernos, Templários, franco-maçons, Illuminati. No livro, Charles-Louis defendia a tese de que os maçons, herdeiros dos Templários, tinham voltado à Escócia para desencadear a Revolução Francesa! Mais uma vez, nada de provas.

A primeira refutação séria da ideia da conspiração maçônica foi elaborada em 1801 pelo prefeito de uma cidade da região de Ille-et-Vilaine, na França, chamado Jean Joseph Mounier. Em seu livro, Sobre a influência atribuída aos folósofos, maçons e Illuminati na Revolução na França, ele contesta ponto por ponto os argumentos de Barruel.

Mounier demonstra que, se os franco-maçons contribuíram efetivamente para a difusão de ideais que alimentaram os revolucionários, não existe nenhuma prova de que eles tenham organizado um complô. Na verdade, o autor explica que as lojas maçônicas eram pouco organizadas na época. Talvez fossem revolucionárias em suas crenças, mas eram muito pouco articuladas no plano de ação concreta e, além disso, movidas por concepções filosóficas extremamente variadas entre si.

De fato, a diversidade no interior da maçonaria francesa era enorme no fim do século XVIII. A sociedade secreta havia chegado ao país graças aos viajantes e negociantes vindos da Grã-Bretanha, berço da organização. A primeira loja maçônica foi instalada na cidade de Dunquerque, em 1721, e em meados do século XVIII a França já contava com cerca de 200 lojas, 22 apenas em Paris. Na aurora da Revolução, elas eram cerca de mil, e seus membros giravam em torno da casa dos 30 mil.

Os maçons daquela época, eram essencialmente burgueses, aristocratas, militares e, surpreendentemente, eclesiásticos. A maçonaria fez grande sucesso na França, pois as aspirações da sociedade estavam em sintonia com as da fraternidade: reação contra o despotismo real, desejo de liberdade, gosto pelas ciências e pela ffilosofia e curiosidade pela Inglaterra, país de origem da organização.

Foram sobretudo as ideias defendidas pelo Iluminismo, a liberdade de expressão e uma relativa tolerância religiosa que atraíam as pessoas às lojas. Como escreveu Daniel Mornet em As origens intelectuais da Revolução Francesa, publicado em 1933, “os franco-maçons não eram revolucionários de coração, o eram apenas da boca pra fora, acostumando-se às fórmulas com as quais a Revolução transformou a realidade.

fonte: revista História Viva.ano VI. nº 71.Texto Philippe Benhamou.

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