Em 1930, findou o período da República Velha e iniciou-se a Era Vargas. Getúlio Vargas foi uma figura singular na história do Brasil. Provocou e continua provocando discussões longas e apaixonadas. Para uns ele foi um ditador cruel; para outros, o maior estadista brasileiro.
No Brasil, até 1930, o candidato à Presidência da República que vencia as eleições era sempre um aliado do presidente anterior. Candidatos de oposição não tinham vez, pois o voto não era secreto e era muito fácil alterar o resultado das urnas.
Em 1930, o presidente da República era Washington Luís, que havia governado o estado de São Paulo de 1920 a 1924. Em 1926, chegou à Presidência, apoiado por Artur Bernardes, Washington Luís deveria apoiar como sucessor um candidato também mineiro. Este seria Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, o presidente do estado de Minas Gerais (naquela época, os governantes dos estados não eram chamados governadores, como hoje). Porém, Washington Luís se recusou a apoiar Antônio Carlos, preferindo indicar o paulista Júlio Prestes, presidente do estado de São Paulo.
Antônio Carlos foi, então, buscar apoio entre os políticos descontentes com o domínio dos cafeicultores paulistas sobre o governo. Conseguiu a adesão de políticos do Rio Grande do Sul e da Paraíba, formando a Aliança Liberal.
Os políticos do Rio Grande do Sul indicaram Getúlio Vargas, que fora ministro da Fazenda de Washington Luís; os paraibanos indicaram João Pessoa. Formada a chapa, Getúlio Vargas tornou-se candidato à Presidência, tendo João Pessoa como vice. As lideranças políticas dos outros dezessete estados brasileiros apoiaram a chapa de Júlio Prestes e Vital Soares.
O movimento de 1930
Com a vitória de Júlio Prestes nas eleições de 1930, derrotando a candidatura de Getúlio Vargas, o governo permaneceu sob a influência dos cafeicultores paulistas. A única forma encontrada para retirar os paulistas do governo foi a violência: começou a ser articulado um movimento para derrubar o governo de Washington Luís e impedir a posse de Júlio Prestes.
Apesar de eleito, Júlio Prestes era considerado um presidente ilegítimo pelos eleitores de Vargas. Muita gente acreditava que a eleição fora manipulada pelo governo para impedir a vitória de Getúlio.
Os preparativos para o movimento uniram lideranças políticas jovens, como os gaúchos Getúlio Vargas, Oswaldo Aranha, José Antônio Flores da Cunha, Lindolfo Collor, João Batista Luzardo, Maurício Cardoso e João Neves da Fontoura, e os mineiros Virgílio de Melo Franco e Francisco Campos.
Além de derrubar o governo, esses políticos pretendiam reorganizar o Estado brasileiro. Receberam o apoio de líderes tenentistas, como Juarez Távora. Isidoro Dias Lopes, João Alberto e Miguel Costa. Esses militares acreditavam que um governo capaz de romper com o domínio paulista poderia também realizar algumas de suas reivindicações, por exemplo, a centralização do poder na figura do presidente da República.
O político Luís Carlos Prestes optou por um caminho mais radical, não apoiando o golpe contra Washington Luís. Declarou-se socialista, defendendo que a mera troca de governantes não atenderia às reais necessidades da população brasileira.
Parte da própria oligarquia cafeeira também apoiou o movimento, como os mineiros Artur Bernardes, Venceslau Brás, Afrânio de Melo Franco e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada.
O inesperado assassinato de João Pessoa estimulou adesões ao movimento, levando diversos setores do Exército a apoiá-lo. Em 3 de outubro sob a liderança civil de Getúlio Vargas e a chefia militar do coronel Góis Monteiro, começaram ações militares no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e no Nordeste.
O presidente Washington Luís recebeu um ultimato de oficiais-generais, exigindo sua renúncia. Como não renunciou, os militares determinaram sua prisão, no dia 24 de outubro. Os paulistas, arruinados economicamente pela crise de 1929, não ofereceram resistência.
Formou-se então uma junta provisória de governo, composta pelos generais Tasso Fragoso e João Mena Barreto e pelo almirante Isaías de Noronha, que em seguida nomeou Getúlio Vargas presidente do Brasil.
As eleições
Antes mesmo de ser derrubada pelo golpe de Estado de 1930, o oligarquia paulista já estava dividida. Em 1926, fazendeiros de café e profissionais liberais descontentes com o governo paulista haviam fundado o Partido Democrático (PD). Defensores do voto secreto e das liberdades individuais, os membros de PD constituíram um bloco de oposição ao Partido Republicano Paulista (PRP), que no mesmo ano elegeu Washington Luís à Presidente da República.
O assassinato de João Pessoa
Em 1928, João Pessoa elegeu-se Presidente do estado da Paraíba. (...) Para enfrentar as dificuldades financeiras, (...) criou impostos sobre o comércio realizado entre o interior paraibano e o porto de Recife (...). Essa medida gerou grande descontentamento entre os fazendeiros do interior, como o coronel José Pereira Lima, chefe político do município de Princesa e com forte influência sobre a política estadual.
Após a derrota da chapa de João Pessoa nas eleições de 1930, o coronel José Pereira, que apoiava Júlio Prestes, iniciou uma revolta em Princesa contra o governo estadual, sendo apoiado pelo governo federal. Ao mesmo tempo, no interior da Aliança Federal, ganhava força a proposta de deposição de Washington Luís por meio de um movimento armado. João Pessoa rejeitou essa solução. Naquele momento sua atenção concentrava-se no combate à Revolta de Princesa.
Nesse sentido, ordenou à polícia paraibana invadir escritórios e residências de pessoas suspeitas de receptar armamentos destinados aos rebeldes. Numa dessas invasões - na residência de João Dantas, aliado de José Pereira-, foram encontradas cartas íntimas trocadas entre Dantas e sua amante. As cartas foram publicadas pela imprensa alinhada ao governo estadual, provocando grande escândalo na sociedade paraibana. (...) No dia 26 de julho de 1930, em viagem ao Recife, João Pessoa foi assassinado com dois tiros desferidos por João Dantas, em uma confeitaria da capital pernambucana.
O assassinato provocou forte comoção no país. Os líderes da Aliança Liberal trasladaram (transportaram) o corpo para o Rio de Janeiro onde foi enterrado em meio a grande manifestação popular. Tal clima contribuiu para que os preparativos revolucionários se acelerassem, resultando na deposição de Washington Luís, em outubro, e na ascensão de Vargas ao poder, no mês seguinte.
Em setembro de 1930, a capital paraibana, até então denominada Cidade da Paraíba, foi rebatizada com o nome de João Pessoa.
Adaptado de <www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/html/biografias/ev_bio_joaopessoa.html>Acesso:9/10/2005
BOULOS JUNIOR< Alfredo.coleção: História Sociedade & Cidadania. ensino fundamental. CARDOSO, Oldimar. coleção: Tudo é História. ensino fundamental.
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