As Viagens
As extravagâncias e as provocações de Scaliger exasperaram o inquisidor de Toulouse. Para escapar de qualquer perseguição, Nostradamus refugiou-se na cidade de Bordeaux e, em seguida, em La Rochele. Em 1540, retomou suas viagens.
Perdem-se nesse ponto alguns importantes registros de sua história. Reza a lenda que ele teria percorrido França, Alemanha, Itália, Espanha e até mesmo que teria se iniciado nas ciências ocultas à sombra da esfinge, no Egito. Sabe-se com segurança que passou por muitas regiões da França.
Deixou vestígios incontestáveis na atual região da Alsácia-Lorena e não é improvável que tenha atravessado o rio Reno e chegado à Alemanha. Sua presença na Itália também é quase certa, em Gênova, Florença, Turim e Milão.O resto é literatura.
O fio da meada da vida de Nostradamus reaparece por volta de 1545, na França, quando uma nova epidemia eclodiu em Aix. A cidade recordaria durante muito tempo o “carvão provençal”, doença assim chamada por escurecer radicalmente a epiderme dos afetados. “As pessoas atacadas por essa doença”, escreveria mais tarde César de Nostradame, “perdem a esperança de salvação”.
Nostradamus mostrou nessa época a coragem, determinação e generosidade de 20 anos antes. Seguiu o flagelo em cada canto daquela região e desenvolveu seu célebre “pó excelente para eliminar os odores pestilenciais”. À base de serragem de cipreste, íris de Florença, âmbargris, cravo-da-índia, almíscar, aloé e rosas encarnadas, aparentemente o produto tinha um efeito profilático real, pois seu inventor foi homenageado em Aix, já libertada da moléstia. Em Lyon, onde a peste chegou em 1547, o remédio também fez maravilhas.
No outono de 1547, Nostradamus retorna a Provença, casa-se pela segunda vez, com Anne Ponsard, que lhe deu oito filhos.
Como todo prático da época, Nostradamus era “astrófilo”, ou seja, seguia os princípios da medicina astrológica, herdada de Galeno, Averróis e Ptolomeu. A alma, o corpo e suas enfermidades estavam ligados ao Sol, à Lua e aos astros. A astrologia figurava no currículo da universidade. Por isso todo médico era um fazedor de horóscopos.
Para complementar a renda, a partir de 1550, Nostradamus passou a publicar anualmente um almanaque de conselhos e previsões metereológicas. Em 1555, editou suas sete primeiras “centúrias”, um conjunto de versos codificados, supostamente previsões do futuro.
No mesmo ano, lançou o livreto, Tratado sobre as maquiagens e os confeitos. O sucesso foi tanto que se seguiram numerosas reedições. Nostradamus o aprimorava cada vez mais a cada reedição novas receitas de beleza e gastronomia. Embora estejam em francês antigo, salpicado de latim e provençal, as receitas têm ainda o mérito de ser inteligíveis. O que não é bem o caso de suas profecias.
Jean-Louis De Degaudenzi
As profecias de Nostradamus são chamadas de “centúrias” porque se compõem de quadras reunidas em grupos de 100. Foram publicadas em tempos diferentes, algumas das quais depois de sua morte . As falsificações também foram muitas, ao longo dos séculos. Uma parte do que se apresenta ainda hoje como obra do médico foi, antes, arte de espertalhões.
fonte: revista História Viva. ano VI. nº 66
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