O conjunto de denominações protestantes tem sua origem no século XVI, e conta entre os seus principais mentores a figura de Martinho Lutero.
Martinho Lutero nasceu em 19/11/1483, em Eisleben, Alemanha. A partir de 1501, na Universidade de Erfurt, estudou a filosofia nominalista de Occam, (frade Franciscano) com tendência antimetafísica e relativista. Tal sistema dissolvia a harmonia entre a ciência e a fé, pois tinha as verdades da fé como irracionais ou impenetráveis à razão; a moral se fundaria unicamente na vontade de Deus.
Em julho de 1505, à revelia dos pais e dos amigos, Lutero entrou no convento dos Agostinianos. Em 1507 foi ordenado presbítero. Em 1510 ou 1511 passou quatro semanas em Roma, onde conheceu a vida da Cúria e a exuberância das devoções populares. Foi nomeado professor de Sagrada Escritura, em Wittenberg. No entanto, vivia inquieto, pensando na sua fragilidade moral e nos insondáveis juízos de Deus, jejuava, praticava vigílias de oração, mas sem conseguir paz.
O contato com as epístolas de São Paulo (especialmente aos Romanos e aos Gálatas) foi-lhe oferecendo uma solução: viu que não devia se importar tanto com aquilo que fazia ou deixava de fazer; precisava era ficar firme na fé-confiança em Jesus Salvador - dizia ele: 'é a fé e não as obras boas que salvam o homem. Este foi totalmente corrompido pelo pecado original, e não pode senão pecar. O livre arbítrio está vendido ao pecado; não se pode apelar para ele. De resto, a cobiça desregrada, que é o próprio pecado é inextinguível no homem. Só lhe resta confiar nos méritos de Cristo, porque ninguém tem mérito próprio. Quando Deus declara o homem justo ou reto, não lhe está apagando os pecados, mas apenas resolve não os levar em conta, cobrindo-os com o manto da justiça ou da santidade de Cristo'.
Lutero se baseava especialmente em textos lidos à luz dos escritos de Santo Agostinho, que se revelara pessimista em relação à natureza humana. Há quem atribua a Lutero os dizeres: "Podes pecar fortemente; mas se creres mais fortemente, serás salvo!". O pecado seria inextinguível, mas a fé bastaria para salvar o crente. A fórmula porém, não é de Lutero, embora contenha, em seu cerne (interior), o seu autêntico pensamento.
Para Lutero a fé era seu "Evangelho". Implicava radical revolução dentro do cristianismo. Lutero associou outras teses:
- somente a Bíblia é fonte de fé, ficando rejeitada a tradição oral que sempre acompanhou a Bíblia, contribuindo para indicar o genuíno sentido da mesma. Também o magistério da Igreja era rejeitado, cabendo a cada crente o "livre exame" do texto sagrado. Tal princípio explica a multidão de denominações protestantes hoje existentes;
- não há sacerdócio ministerial transmitido através do sacramento da Ordem. Todos os crentes participam de um único e universal sacerdócio derivado do batismo. Este princípio abre o caminho para que as mulheres possam ser consideradas pastoras nas denominações protestantes;
- Lutero não reconhecia o Santo Sacrifício da Missa, nem os sufrágios pelas almas do purgatório. A remissão dos pecados se obteria pela confissão diretamente feita a Deus!
Em 31/10/1517, Lutero lançou protesto contra a doutrina e a disciplina da Igreja Católica, afixando à porta da igreja de Wittenberg, uma lista de 95 teses em latim, a respeito do primado do Papa e de temas conexos.
O protesto de Lutero espalhou-se rapidamente pela Alemanha e para o estrangeiro. Encontrou apoio entre os príncipes da Alemanha, que tinham antigos ressentimentos contra a Santa Sé por questões políticas. Também a pequena nobreza estava do seu lado, porque da revolução religiosa esperava uma revolução social que satisfizesse aos seus anseios. Lutero tinha como um de seus protetores, o príncipe Frederico, o Sábio, da Saxônia.
Em 1521, houve uma reunião do Parlamento em Worms, na qual Lutero não aceitou se retratar das suas teses revolucionárias. Foi condenado à morte pela assembléia. Mas Frederico, o Sábio, o escondeu no Castelo de Wartburg, onde ficou por dez meses. Começou então a tradução da Bíblia para o alemão, que só foi completada em 1534.
Os últimos anos de vida de Lutero foram angustiosos por diversos motivos: os aborrecimentos e as decepções se somavam à fragilidade de sua saúde. Lutero via crescer a indisciplina e a procura de interesses particulares nos territórios reformados; os príncipes dominavam as questões religiosas. Em 1534 escreveu: "Vem, senhor Jesus, vem... Os males ultrapassaram a medida. É preciso que tudo estoure. Amém". Finalmente morreu em 18/02/1546 na cidade natal de Eisleben.
Lutero foi certamente um homem de religiosidade profunda, dotado de firme confiança em Deus, diligente no trabalho e desinteressado de si. A esses dons, associava-se um temperamento apaixonado, que podia chegar às raias do doentio; uma convicção cega de que tinha recebido uma missão de profeta.
O.S.B. BETTENCOURT TAVARES, Estevão. Crenças, religiões, igrejas e seitas: quem são? ed. O Mensageiros de Santo Antônio. Santo André. SP, 1999.
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