O crescimento das manifestações populares de descontentamento demonstrava que os governos populistas não conseguiam mais controlar as esquerdas e as massas. As burguesias latino-americanas, cada vez mais dependentes das grandes corporações capitalistas internacionais, especialmente das americanas, exigiam condições para a continuidade da expansão dos lucros e da acumulação do capital.
A Revolução Cubana, com a adoção do regime socialista por Fidel Castro, deu um modelo para muitos movimentos da esquerda no continente. A política externa dos Estados Unidos e as classes dominantes da América Latina pretendiam, a qualquer preço, evitar a expansão do modelo cubano. Se até então os Estados Unidos estavam mais voltados para a Europa, para a Ásia, especialmente por causa da Revolução Chinesa, com a revolução Cubana, no fim dos anos 1950, a política exterior americana voltou suas atenções para o continente americano.
Inicialmente, os Estados Unidos tentaram incrementar uma política de auxílio aos países da América Latina através da chamada Aliança para o Progresso. Nascida oficialmente no Encontro Extraordinário do Conselho Econômico e Social Interamericano, realizado em Punta del Este, no Uruguai, em agosto de 1961, a Aliança para o Progresso pretendia ajudar a acelerar o desenvolvimento econômico na América Latina. Na tentativa de garantir o estabelecimento de governos "plenamente democráticos", foi produzida uma carta de intenções que propunha uma série de melhorias na distribuição de renda do continente latino-americano, reforma agrária e o desenvolvimento de planejamentos econômicos e sociais. Embora oficialmente o objetivo dos Estados Unidos fosse promover o progresso econômico da América Latina através de uma aliança com todos os países do continente, tratava-se do processo de enfrentamento do "perigo comunista" no continente.
Por isso, o resultado mais notável da atuação da Aliança para o Progresso foi a cooperação, principalmente no plano militar, com o objetivo de reprimir os movimentos esquerdistas, armados ou não. A atuação da Aliança no plano social e econômico foi inexpressiva.
Aos poucos, a única forma viável de controlar os movimentos populares encontrada pelos Estados Unidos e pelas classes dominantes da América Latina foi a instituição de governos militares. Por essa razão, os anos 1960 e 1970 da história da América Latina ficaram marcados pelas ditaduras militares apoiadas pelos norte-americanos.
Em vários casos, a esquerda foi surpreendida pela força dos golpes e da repressão. No Uruguai, na Argentina, na Colômbia, no Peru, na Bolívia e no Brasil, a esquerda e os movimentos populares não ofereceram, de imediato, alternativas para a situação.
Divisões no interior dos movimentos de esquerda fizeram surgir guerrilheiros para combater os militares e o imperialismo. Cuba ainda tentou apoiar esses movimentos, mas, desde o acordo entre União Soviética e os Estados Unidos, depois da crise dos mísseis, ficou praticamente isolada. Os movimentos de guerrilha urbana foram sendo derrotados, e os governos militares não tinham mais opositores expressivos. Mas o movimento guerrilheiro acabou dando aos governos militares uma forte justificativa para reprimir duramente a oposição.
Paradoxalmente, alguns governos militares adquiriram características nacionalistas. O Peru, por exemplo, liderado pelo general Velasco Alvarado, nacionalizou uma campanha americana de petróleo e também as indústrias de mineração e pesqueira, além de fazer uma ampla reforma agrária e estabelecer o limite marítimo nacional de 200 milhas. E, por isso mesmo, foram também derrubados por militares ligados aos interesses das grandes corporações estrangeiras. No entanto a maioria dos governos militares submetia-se às determinações da política externa dos Estados Unidos.
O caso mais significativo de intervenção militar violenta na vida política do Chile: em 11 de setembro de 1973 o governo socialista de Salvador Allende foi derrubado por um golpe liderado pelo general Augusto Pinochet, com o apoio dos serviços secretos norte-americanos e de forças repressivas do Brasil.
Não podemos analisar os governos militares da América Latina como um único modelo. Há diferenças fundamentais, por exemplo, entre o regime militar argentino e o brasileiro. No primeiro caso, o historiador Moniz Bandeira chega a defender a tese de que o golpe de 1976 na Argentina teve como objetivo a desindustrialização do país como a única forma de destruir o forte sindicalismo operário do país vizinho. Industrialização significa fortalecimento do movimento operário. O contrário deu-se com o Brasil: industrialização acelerada, combinada com um controle do movimento operário.
Resumidamente, podemos dizer que os regimes militares combinaram autoritarismo político com liberalismo econômico. As liberdades democráticas foram suprimidas, mas os militares apoiavam-se de forma constante na livre-iniciativa no plano econômico.
PEDRO, Antônio. História da civilização ocidental. ensino médio. volume único.
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