Este é o depoimento de São Jerônimo, um religioso da Igreja católica, sobre o que aconteceu no Império romano do Ocidente com a chegada dos povos germânicos.
Não descreverei catástrofes pessoais de alguns dias infelizes, mas a destruição de toda a humanidade, pois é com horror que meu espírito segue o quadro das ruínas da nossa época. Há vinte e poucos anos que, entre Constantinopla e os Alpes Julianos, o sangue romano vem sendo diariamente vertido. A Cítia, Trácia, Macedônia, Tessália, Dardânia, Dacia, Épiro, Dalmácia, Panônia são devastadas pelos godos, sármatas, quados alanos, hunos, vândalos, marcomanos; deportam e pilham tudo.
Quantas senhoras, quantas virgens consagradas a Deus, quantos homens livres e nobres ficaram na mão dessas bestas! Os bispos são capturados, os padres assassinados, todo tipo de religioso perseguido; as igrejas são demolidas, os cavalos pastam junto aos antigos altares de Cristo […]. O mundo romano cai; contudo nossa cabeça teima em permanecer erguida. […]
Percebemos que Deus está, há tempos, magoado e nada fizemos para aplaca-lo. É por causa de nossos pecados que os bárbaros são tão fortes, pelos nossos vícios que foi vencido o exército romano e, como se não fosse desgraça suficiente, as guerras civis matam quase mais do que a ação dos inimigos.
São Jerônimo. Cartas. In: FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Roma: vida pública e vida privada. São Paulo: Atual, 2000, p. 68-9.
Trinta e um livros de feitos – século IV d.C
Nascido por volta de 330, o escritor romano Amiano Marcelino foi contemporâneo das invasões germânicas do Império romano do Ocidente. Em seus relatos históricos, fez uma viva descrição do modo de vida não só dos germanos, mas também dos Hunos. Marcelino morreu por volta de 400 quando já nada restava do antigo Império romano do Ocidente.
Os hunos são rudes no seu modo de vida, de tal maneira que não tem necessidade nem de fogo nem de comida saborosa; comem raízes das plantas selvagens e a carne semicrua de qualquer espécie de animal.
Vestem-se com tecidos de linho ou com peles de ratos silvestres cosidas umas às outras e, uma vez enfiados numa túnica desbotada, não a tiram até que se faça em tiras e caia aos pedaços.
Seus sapatos não tem forma nenhuma e isso os impede de caminhar livremente. Por esta razão não estão adaptados às lutas pedestres, vivendo quase fixados aos cavalos, que são fortes, mas disformes. É nos seus cavalos que de dia e de noite compram e vendem, comem e bebem e inclinados sobre o estreito pescoço do animal, descansam num sono profundo.
Ninguém entre eles lavra a terra ou toca um arado. Todos vivem sem um lugar, sem lar nem lei ou uma forma de ordem estabilizada, parecendo sempre fugitivos nas carroças onde habitam.
MARCELINO, Amiano. In:JANOTTI, Maria de Lourdes et alli. Coletânea de documentos históricos para o primeiro grau-São Paulo Secretaria de Estado da Educação, 1998, p. 64
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