A hierarquia, que havia marcado profundamente as relações sociais durante o feudalismo, estendia-se também para as relações religiosas. Isso significa que a relação entre Deus e os homens era visto como hierarquia: o homem havia recebido o direito de habitar a Terra como se o planeta fosse um grande feudo; em troca, tinha que jurar fidelidade a Deus prestando-lhe serviços. Funcionava como uma relação entre um suserano e um vassalo.
Foi utilizando-se desse argumento religioso-feudal que se organizou um grande exército de “vassalos” cristãos que deveriam lutar pelo seu “suserano”, que era Deus. Eis as origens da idéia de guerra santa levada a cabo pelas Cruzadas.
Era a luta contra os “inimigos de Deus”, fossem infiéis, como os muçulmanos, heréticos, pagãos ou cristãos ortodoxos. O guerreiro era recompensado com a indulgência (perdão dos pecados), bom como sua esposa, caso lhe permanecesse fiel. Durante a guerra, os bens do cruzado eram administrados pela Igreja e suas dívidas eram suspensas temporariamente.
Mosaico medieval, cruzadas combatem muçulmanos. A conquista de Jerusalém foi uma das metas da Primeira Cruzada, que durou de 1096 a 1099.
A tomada da Palestina pelos turcos seljúcidas (originários das regiões próximas da China) impediu as peregrinações aos lugares santos de Jerusalém, costume da religiosidade medieval bastante difundido e valorizado. Organizaram-se, então, expedições militares para resgatar a Terra Santa das mãos dos infiéis. Seus integrantes usavam uma cruz como símbolo. Por isso, essas expedições são hoje chamadas cruzadas. Os cruzadas eram guerreiros vassalos do Cristo-suserano.
Além desse fator eminentemente religioso, a Igreja também vivia graves problemas internos. Um desses problemas foi o Cisma do Oriente (1054), que abalava seu prestígio.
Durante o concílio de Clermont, o papa Urbano II pronunciou um discurso exortando (aconselhando) os europeus a conquistar Jerusalém: essa era a oportunidade para reunir a cristandade, dividida, reafirmando o poderio da Igreja e fortalecendo a autoridade papal.
Dessa forma, o papado encontrou uma solução que desviava a belicosidade (que incita a guerra) dos senhores feudais contra um inimigo comum: o infiel que dominava o Santo Sepulcro. Também os bizantinos (irmãos do oriente) encontraram nas Cruzadas uma forma de deter o avanço muçulmano em seu território, chegando a propor, em algumas ocasiões, a reunificação dos cristãos do Oriente e do Ocidente.
O contexto social da época
Gênova e Veneza, que detinham a hegemonia do comércio entre o Oriente e o Ocidente, viram nas Cruzadas uma oportunidade de ampliar sua área de influência no Mediterrâneo. A própria expedição militar era um bom negócio, já que os italianos forneciam empréstimos, mantimentos, equipamentos e navios aos cruzados. Sua influência era tão grande que, a quarta cruzada teve sua rota desviada para atender aos interesses de Veneza.
Outro fator que influenciou o nascimento do movimento das Cruzadas foi o crescimento demográfico verificado a partir do século XI. O parcelamento contínuo das terras expulsou muitos camponeses dos senhorios, e o comércio e as cidades não eram suficientes para absorve-los. Surgiu uma camada de marginalizados que buscavam alternativas para a sobrevivência. O banditismo foi uma delas. De outro lado, muitos filhos da aristocracia não possuíam terras, já que somente o primogênito herdava as propriedades da família.
Ao fervor religioso dos cruzados aliou-se a necessidade de obter terras. As Cruzadas representavam, portanto, a promessa da fortuna na terra e da vida eterna no paraíso.
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