Quando os portugueses chegaram à América, em 1500 existia no atual território brasileiro uma grande quantidade de sociedades indígenas. Muitos estudiosos acreditam que naquela época viviam aqui mais de mil povos diferentes. Os números não são precisos, mas estima-se que essa população poderia chegar a 5 milhões de habitantes. De acordo com as línguas que falavam, esses indivíduos podem ser divididos em dois grandes grupos: os Macro-Jê – grupo linguístico que incluía povos como os Bororo e os Karajá – e os Tupi-Guarani – grupo formado por povos como os Guarani, os Tupinambá e os Carijó.
Os povos falantes das línguas Macro-Jê viviam, em sua maioria, no interior do atual território brasileiro. Já os Tupi-Guarani viviam ao longo de quase toda a costa atlântica. Como nos primeiros tempos da colonização os portugueses se concentraram no litoral, existem hoje muito mais informações a respeito dos Tupi-Guarani do que dos povos falantes das línguas Macro-Jê.
Os Guarani ocupavam as bacias dos rios Paraná, Paraguai, Uruguai e o litoral, desde a lagoa dos Patos até Cananéia. Os Tupinambá dominavam a costa desde Iguapé até o Ceará e os vales dos rios que deságuam no mar. No interior, a fronteira ficava entre os rios Tietê e Paranapanema.
Urna funerária Tupi-Guarani, conservada no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná, Paranaguá, Paraná.
Modo de vida e de guerraEssas sociedades Guarani viviam basicamente da agricultura de coivara, da caça e da pesca. O milho parece ter sido o principal alimento cultivado pelos Guarani, e a mandioca amarga (para a produção de farinha) o principal cultivo dos Tupinambá.
As aldeias Tupinambá eram normalmente formadas por quatro a oito malocas dispostas em torno de um pátio central, abrigando uma população de até 2 mil pessoas. As aldeias que mantinham relações pacíficas realizavam rituais comuns e organizavam expedições guerreiras para a defesa do território.
As relações entre aldeias se articulavam sem a presença de um chefe supremo. Em tempos de guerra, cada maloca ou aldeia podia ter um chefe. Em tempos de paz, as decisões políticas eram tomadas coletivamente pelos homens adultos.
Para os Tupi-Guarani, a guerra nem sempre almejava novos territórios e provavelmente nunca teve como objetivo o saque ou a conquista dos despojos do inimigo. O alvo principal da guerra era a captura de prisioneiros, que não eram escravizados, mas sim mortos e devorados em rituais coletivos. A execução dos prisioneiros de guerra podia demorar vários meses. Nesse intervalo, o prisioneiro vivia na maloca de quem o havia capturado, que lhe cedia a irmã ou a filha como esposa. Às vésperas da execução, o prisioneiro era submetido a um ritual de captura, depois morto e devorado.
Sistemas numéricos
A forma como representamos os números hoje no Brasil, chamada de sistema numérico decimal, não foi inventada por aqui. Foi criada na Ásia há milhares de anos e trazida para a América pelos conquistadores europeus. Mas muito antes da chegada dos europeus os nativos do continente americano tinham suas próprias maneiras de representar os números.
Várias sociedades que existiram na região do atual México entre 3200 e 500 anos atrás, como os maias e os mexicas, utilizavam um sistema numérico com apenas três símbolos. O símbolo:
representava o que em nossa cultura chamamos de zero; um ponto representava uma unidade um traço equivalia a cinco unidades. Nessa lógica, os números até 19 eram representados da seguinte forma:
Para representar números maiores de 19, era utilizado um sistema chamado vigesimal, ou seja, composto de múltiplos de 20. Nesse sistema, os números eram escritos verticalmente, e não horizontalmente como fazemos. O primeiro símbolo, de baixo para cima, representava um número de 0 a 19. O segundo símbolo representava um número de 0 a 19 multiplicado por 20, o terceiro símbolo representava um número de 0 a 19 multiplicado por 400 e o quarto símbolo representava um número de 0 a 19 multiplicado por 8000. Por exemplo, os números 10 791 e 40 329 eram escritos da seguinte forma:
Os números na América andina
As sociedades estabelecidas na cordilheira dos Andes no momento da chegada dos europeus usavam um sistema numérico diferente. Os números eram representados por meio de nós num conjunto de cordões chamados quipo ou Kipu. É possível que os quipos fossem utilizados não apenas para o registro de números, mas também para o registro de textos.
A quantidade, a forma e a posição dos nós, assim com a cor e a extensão dos cordões, determinavam a informação registrada no quipo. Por exemplo, um quipo que registrasse os números 342, 1613, 105, 2361 e 5223 teria a forma da figura abaixo.
FOTO DE UM QUIPO
A expansão dos Tupi-Guarani
Até recentemente, os estudiosos acreditavam que os Tupi-Guarani haviam chegado ao litoral atlântico pouco antes da conquista portuguesa. Tinham essa crença porque só a expansão rápida e recente poderia explicar tanta semelhança cultural entre uma população espalhada por tão amplo território.
Entretanto, o estudo de peças cerâmicas atribuídas aos Tupi-Guarani desmentiu essa hipótese, levando os pesquisadores a buscar novas explicações para a movimentação desses indígenas pela América do Sul.
Trecho do livro História dos Índios no Brasil, 1992. Existem dois grandes modelos […] [para explicar] o processo de expansão tupi-guarani na costa brasileira. A idéia dominante é a de que um movimento migratório de sul para norte, a partir […] dos rios Paraná e Paraguai, onde Tupinambá e Guarani teriam se separado. [Alfred] Métraux sugere que a dispersão litorânea era um fato recente na época da Conquista [européia], dada a identidade cultural de vários grupos que ocupavam a costa. O segundo modelo, mais recente e baseado na interpretação de dados arqueológicos, inverte o sentido do deslocamento tupinambá. [José] Brochado acredita que, a partir de um nicho originário amazônico, teríamos dois movimentos migratórios de orientações diversas: os […] [antepassados dos Guaranis] teriam rumado para o sul […] [pelos rios Madeira e Guaporé] e atingindo o rio Paraguai, espalhando-se ao longo de sua bacia desde o início da era cristã […]: já os […] [antepassados dos Tupinambá] teriam descido o Amazonas até sua foz, expandindo-se, em seguida, pela estreita faixa costeira em sentido oeste-leste e depois norte-sul. A ocupação total do litoral teria ocorrido entre 700-900 d.C e 1000-1200 d.C., quando os grupos Tupi mais ao sul teriam sua expansão barrada pelos Guarani. FAUSTO, Carlos. Fragmentos de história e cultura tupinambá. In: CUNHA, Manuela Carneiro da. História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 382. |
CARDOSO, Oldimar. coleção Tudo é História – ensino fundamental
Technorati Marcas: Os Tupi-Guarani
1 Comentário:
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