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O encobrimento do Brasil

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Em 1992, por ocasião dos 500 anos da viagem de Colombo, houve intenso e extenso debate nas Américas e na Europa sobre o vocabulário adequado para descrever a chegada dos europeus ao continente. Uma crítica devastadora foi então feita ao uso da palavra “descobrimento”, ou “descoberta” […]

Falar em “descobrimento”, argumentou-se, implicava dizer que essas gentes e civilizações só tinham passado a ter existência real após a chegada dos europeus. Implicava ainda dar um tom falsamente neutro a um processo que foi violento e genocida. Os 5 milhões de nativos da Hispaniola, aonde chegou Colombo, desapareceram em um século. Os 2,5 milhões do planalto mexicano foram reduzidos a 2 milhões no mesmo período. Nos Andes, 10 milhões tinham  virado 1,5 milhão ao final do século XVI. […]

A população nativa da parte portuguesa era sem dúvida muito menor do que a da parte espanhola. Mesmo assim, ela foi calculada entre 3 e 5 milhões à época da chegada de Cabral. Digamos 4 milhões. Isso equivalia a quatro vezes a população de Portugal. […] Apesar do menor número, o genocídio não foi menor em termos relativos.[…] Ao final de três séculos, a população da colônia portuguesa era quase a mesma de 1500, com a diferença de que tinham desaparecido 3 milhões de nativos, média de 1 milhão por século. […]

Se as palavras não são para encobrir as coisas, só há uma expressão para descrever o que passou desde 1500: conquista com genocídio dos índios, seguida de colonização com escravidão africana.

CARVALHO,José Murilo de. O encobrimento do Brasil. Folha de São Paulo, 3/10/1999. www.uol.com.br/fol/brasil500/dc acesso 22/2/2006

Descoberta para quem?
No ano de 1992 foram realizadas diversas comemorações do aniversário dos quinhentos anos da chegada dos espanhóis à América.  No ano 2000 foi a vez de comemorar os quinhentos anos da chegada dos portugueses a esse continente. Nas duas ocasiões, muitas pessoas protestaram, questionando as palavras usadas para descrever esses acontecimentos.

O termo “descobrimento da América” (ou “achamento”, como consta nos relatos dos primeiros portugueses na região) menospreza a população nativa. Como os europeus poderiam “descobrir” um continente no qual cerca de 40 milhões de pessoas já viviam havia milhares de anos?

Em lugar de “descobrimento” e “achamento”, muitos autores atuais preferem usar palavras como “invasão” e “conquista”, que não deixam dúvidas a respeito da ação violenta dos europeus.

Quinhentos Anos: No ano de 2000 o governo brasileiro gastou cerca de R$ 3,8 milhões só com a construção de uma réplica da embarcação de Pedro Álvares Cabral, essa réplica seria utilizada nas “comemorações” dos 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil, a embarcação não foi utilizada na festa por ter apresentado inúmeros defeitos. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento Negro Unificado (MNU) e várias outras entidades formaram o Movimento Brasil: 500 anos de Resistência Indígena, Negra e Popular, que protestava contra o clima de festa criado pelo governo.

CARDOSO, Oldimar. coleção Tudo é História. ensino Fundamental

 

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