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Governo Campos Sales

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Prudente de Morais reassumiu a presidência da república no exato momento em que os rebeldes de Canudos estavam sendo perseguidos pelas forças federais. Apesar da vitória sobre os seguidores de Conselheiro, os republicanos florianistas mostravam-se insatisfeitos  com a política dos cafeicultores. A agitação continuava.

O presidente recuperou o prestígio diante dos florianistas depois que um suboficial chamado Marcelino Bispo tentou matar Prudente de Morais. O presidente se salvou, mas o ministro da Guerra morreu. Sentindo-se politicamente fortalecido, preparou o caminho de sua sucessão para Campos Sales, ao mesmo tempo que procurava valorizar o preço do café, que caía no mercado externo.

Campos Sales 

Economia dependente

A proclamação da República, no ano de 1889, não significou mudanças radicais na estrutura do país. A economia continuou, basicamente, voltada para o mercado externo. No entanto, a República significou um novo regime político, que atendia principalmente aos interesses das oligarquias paulistas do café. Os primeiros passos para a consolidação dessa classe no poder foram dados por Prudente de Morais. Seu sucessor, Campos Sales, filho de grandes fazendeiros de café, republicano histórico, levou adiante a obra de Prudente: criou novos mecanismos políticos para manter os grandes cafeicultores como donos da máquina administrativa da República. 

As oligarquias e os "coronéis"

Todo o período imperial foi marcado, no Brasil pelo grande poder central representado pelo imperador. Com a Constituição republicana de 1891, a autonomia dos estados ganhou força. Na época do Império a força eleitoral se concentrava no nordeste, já na época da República, os estados dominantes política e economicamente eram São Paulo, Rio Grande do Sul e o Distrito Federal localizado no Rio de Janeiro.

O poder estava concentrado nas mãos das oligarquias estaduais, que criaram mecanismos e acordos que caracterizaram a denominada República Velha (1889-1930). Os principais personagens desses acordos eram os chamados "coronéis".

Todo o poder dos "coronéis" vinha do fato de os pobres do campo serem dependentes dos seus favores: os sertanejos podiam explorar pequenas roças e criar animais; em troca ajudavam na colheita e no cuidado com o gado. O mais importante era que eles protegiam os sertanejos dos abusos policiais e da justiça.

Sua atuação se fazia diretamente através das eleições. Atuavam no que ficou conhecido como "curral eleitoral". Nas eleições eram os "coronéis" que se encarregavam de transportar os trabalhadores para os centros urbanos onde ocorriam as eleições. Além de transporte, os coronéis davam alimento, alojamento, roupas, sapatos e até pagavam os dias de trabalho que os sertanejos perdiam. Em compensação, os trabalhadores votavam em quem eles mandavam. O voto não era secreto.

Graças a esse mecanismo, a estrutura da Velha República era mantida. Se por acaso na região de algum "coronel", surgisse uma oposição, recorria-se a fraude eleitoral, incluía-se na lista dos eleitores nomes de pessoas que já haviam falecido. O nome desse processo era "bico de pena", que significava a falsificação da lista eleitoral.

As finanças, a crise e o desenvolvimento

A eleição de Campos Sales foi a continuidade do processo de consolidação da oligarquia cafeeira no poder. Quando sua candidatura foi lançada, formou-se uma oposição dentro do Partido Republicano Federal ligada aos florianistas, que lançaram a candidatura de Lauro Sodré. Mas, com a máquina eleitoral nas mãos, foi fácil para Campos Sales fazer-se eleger. Seu pensamento político era suficiente para identificá-lo com os interesses da oligarquia agrária e exportadora: era avesso à industrialização e ferrenho defensor da agricultura como única e verdadeira fonte de riqueza para o país.

Assim que Campos Sales foi eleito, viajou para a Europa com o objetivo de negociar a dívida brasileira com os grandes bancos europeus. O Brasil havia entrado em profunda crise financeira, aumentando sua dívida externa. Várias razões explicam a crise do endividamento. Deodoro, Floriano e Prudente de Morais haviam realizado grandes gastos com as campanhas militares durante seus governos e com o pagamento de juros da dívida externa acumulada desde os primeiros momentos do Império. O mil-réis se desvalorizava constantemente, o que beneficiava os grandes exportadores, mas penalizava os assalariados e os consumidores em geral com a constante alta de preços dos alimentos. O Tesouro estava praticamente sem fundos, os impostos que vinham das alfândegas eram cobrados em moeda nacional, e as compras que o governo fazia tinham de ser pagas em moedas estrangeiras. Isso fazia com que os cofres ficassem vazios, aumentando a dívida externa.

Chegando à Europa, em 1808, Campos Sales entrou em contato com vários credores do Brasil, principalmente com a casa bancária Rotschild. A proposta era a renegociação da dívida externa através de uma fusão de todo o débito brasileiro, que seria renegociado. A esse processo deu-se o nome de funding loan. O acordo previa que os bancos forneceriam um novo empréstimo ao Brasil no valor de 10 milhões de libras, que só seria pago os juros e a dívida principal depois de vários anos. A garantia que o Brasil dava era sólida: a renda da alfândega do Rio de Janeiro e, se não fosse suficiente a de todas as alfândegas do Brasil; as rendas da Estrada de Ferro Central do Brasil e o serviço de abastecimento de água do Rio de Janeiro ficariam em mãos de representantes dos banqueiros.

O Brasil adquiriu mais dinheiro emprestado para sanear suas finanças, ficando devendo ainda mais para os bancos ingleses. O pagamento de toda dívida foi rolado para os próximos governos, que iriam arcar com as conseqüências. Mas o peso maior da dívida caía, evidentemente, sobre os ombros da maioria da população assalariada.

Assim que tomou posse, Campos Sales tratou de "limpar" toda a economia do país em crise. Seu ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho, iniciou tirando dinheiro de circulação e queimando-o para valorizar o mil-réis, que estava bastante inflacionado. Várias foram as medidas com o objetivo de reforçar o chamado "saneamento": a diminuição das despesas do Estado, e o fim das construções políticas: o aumento dos impostos através de selos  (por esse motivo o presidente ficou conhecido como Campos Selos); o desestímulo à indústria, pois, para Joaquim Murtinho, "o emprego de capitais e operários em indústrias artificiais para um esbanjamento da fortuna nacional".

Num primeiro momento, a política de Murtinho e Campos Sales parecia ter dado certo. Mas em seguida viu-se que os preços dos alimentos subiram e que a divida externa aumentou. Mas o mais importante é que provocou o descontentamento também dos cafeicultores. O café já vinha sofrendo terrível queda de preços no mercado externo: caiu de  4 libras para meia libra para cada saca de café. Com a valorização do mil-réis, a libra quase se equiparou à nossa moeda, fazendo com que recebessem menos quando vendiam seus produtos.

Além do descontentamento geral, a política de Campos Sales passou a ser criticada também pelos fazendeiros. Por essa razão idealizou um pacto político conhecido como a política dos governadores.

Para Campos Sales, a única forma de evitar oposição a seu governo era garantir o poder dos maiores estados com aliados políticos. Com isso formou-se uma sólida aliança entre os estados de São Paulo e Minas Gerais. Por isso é que a maioria dos presidentes dessa época era de São Paulo e Minas. A chamada política do café-com-leite, ou seja a mistura entre o café paulista e o leite mineiro.

PEDRO, Antônio. História da civilização ocidental. ensino médio. volume único.

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